Uso Racional do Aço no Concreto Armado
A experiência acumulada por mais de trinta anos de labuta na elaboração de projetos, fiscalização, execução e acompanhamento de obras de engenharia, credencia-me a falar sobre o uso racional do aço nas obras de construção civil.
Nem sempre os projetos de estrutura são elaborados levando em consideração a economia do aço na construção. Às vezes, o calculista considera apenas o fator segurança, não havendo a preocupação com o econômico. Não há o cuidado de utilizar as pontas ou sobras de aço em outros elementos da estrutura, os quais possuam as dimensões compatíveis com as mesmas.
Esses restos de ferro, considerando a desbitolagem, podem atingir até 20% de perda, o que irá influenciar diretamente no custo final do empreendimento. Esse percentual poderá ser reduzido praticamente a 0%. Todavia, para isso se faz necessário que o engenheiro responsável pela obra fique atento ao projeto de armação e, antes mesmo de efetuar o pedido da compra do aço para a obra, faça uma avaliação detalhada das bitolas do aço a ser usado na obra, observando as que mais terão ocorrências de sobras. Feito isso, deverá verificar a viabilidade de seu aproveitamento em outras peças da estrutura, mesmo que a bitola indicada no projeto não corresponda às das sobras.
Muitos engenheiros não querem perder tempo ou mesmo não valorizam esse tipo de economia – no final da obra irão para o lixo toneladas de sobras de ferro que poderiam ter sido utilizadas na obra, trazendo dividendos para o empreendimento. As sobras ou pontas de aço poderão ser utilizadas de várias maneiras, entre elas, destacamos as emendas por transpasse, solda (caldeamento) e luva roscável que poderão ser usadas como ferragem guia para vigas, ferragem negativa sobre apoios, armação de cantos de laje, tampas de concreto, ferro costela, estribos, espaçadores, etc.
O segredo do bom aproveitamento do aço na construção civil está diretamente ligado no corte das barras de aço para dobragem e aplicação na forma. O engenheiro da obra deverá orientar o seu encarregado de armação, no sentido de que seja processado, sempre em primeiro lugar, o corte das posições de maiores comprimentos. Dessa forma poderá utilizar as sobras para outras posições que melhor convier ao seu aproveitamento. Poderá ocorrer que as bitolas das posições adequadas para a utilização das sobras não sejam as mesmas indicadas no projeto. Neste caso, haverá a necessidade da substituição de um ferro de uma determinada bitola por outro de bitola diferente.
A substituição de ferro (aço-50A ou CA-50B) de uma bitola por outro de bitola diferente somente poderá ser feita obedecendo a critérios técnicos recomendados pelas normas técnicas. É aconselhável que esta substituição tenha o aval do engenheiro autor do projeto. Essa substituição, geralmente, é processada tomando como parâmetro a área da seção de ferro calculada. Uma outra maneira de fazê-la é pelo processo de equivalência entre as barras de bitolas diferentes, conforme o quadro abaixo:
Quadro de equivalência entre as barras de aços (Eng. Antônio Filho Neto)
VALORES DE K para aço CA-50 A e CA-50 B | |||||||||
f(mm) |
6.3 |
8.0 |
10.0 |
12.5 |
16.0 |
20.0 |
22.0 |
25.0 |
Sf(cm2) |
6.3 |
1 |
1,57 |
2,25 |
4,00 |
6,25 |
9,00 |
12,13 |
15,85 |
0,32 |
8.0 |
0,64 |
1 |
1,44 |
2,54 |
4,00 |
5,70 |
7,76 |
10,14 |
0,50 |
10.0 |
0,45 |
0,70 |
1 |
1,74 |
2,78 |
3,96 |
5,40 |
7,05 |
0,72 |
12.5 |
0,26 |
0,40 |
0,57 |
1 |
1,58 |
2,25 |
3,06 |
4,00 |
1,27 |
16.0 |
0,16 |
0,25 |
0,36 |
0,64 |
1 |
1,43 |
1,94 |
2,54 |
2,00 |
20.0 |
0,12 |
0,18 |
0,26 |
0,45 |
0,70 |
1 |
1,37 |
1,78 |
2,85 |
22.0 |
0,09 |
0,13 |
0,19 |
0,33 |
0,52 |
0,74 |
1 |
1,31 |
3,88 |
25.0 |
0,07 |
0,10 |
0,15 |
0,25 |
0,40 |
0,57 |
0,77 |
1 |
5,07 |
Q= K. Qt, onde:
K – Coeficiente de equivalência dado na tabela
Qt = Quantidades de barras a ser substituída
Q = Quantidades de ferros substituídos
Vejamos um exemplo: Em uma laje armada em cruz com dimensões de 4m x 4m, cujo projeto de armação indica 100 (ferros) aço CA-50 A de 8.0, no entanto temos em estoque Aço CA-50A de 10.0. Para aproveitarmos o aço em estoque teremos que fazer a substituição, entretanto, não basta simplesmente substituir uma barra de aço CA-50A 8.0 por outra de aço CA-50A de 10.0, pois, seria ser antieconômico.
Usando a tabela acima. Vejamos como usá-lo
Entrando na tabela acima na coluna com o aço CA-50A 8.0 e na linha com o aço CA-50A 10.0. No cruzamento da coluna com a linha encontra-se o valor de K= 0,70, como já temos a quantidade de ferro de aço CA-50A, basta aplicar a fórmula acima e obteremos a nova quantidade de ferro a ser utilizada.
Assim: Q= 0,70 x 100= 70 barras de aço CA50A de 10.0
Fonte: forumdaconstrucao.com.br