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História preservada

Assim como o aço inspira a mais moderna arquitetura, ele também está presente em diversas obras históricas e cartões-postais do Brasil. Entre essas obras estão algumas pontes pênseis centenárias, que passaram recentemente por recuperação, como a ponte de São Vicente (São Vicente, SP), ou ainda seguem em obras, caso da ponte Hercílio Luz (Florianópolis, SC). Embora limitadas hoje pelas condições mais severas de transporte de carga, elas permanecem servindo à população local, tanto como via de tráfego leve como ponto turístico.

O melhor exemplo desse tipo de estrutura no Estado São Paulo é a Ponte Pênsil de São Vicente, primeira cidade criada pelos portugueses no Brasil, em 1532. A construção da ponte (1911-1914) foi idealizada por Saturnino de Brito e Miguel Presgave com o propósito de servir de suporte ao transporte do esgoto da Ilha de São Vicente e Santos para o mar defronte ao continente (atual Praia Grande), mas desde o início ela serviu à passagem de pedestres e veículos. Projetada e fabricada por August KI6ne em Dortmund, na Alemanha, a ponte que cruza o Mar Pequeno é formada por dois níveis de cabos em cada lateral, sendo dois cabos superiores de 81 mm e seis cabos inferiores de 63 mm, que sustentam o tabuleiro por meio de pendurais fixados nas treliças de rigidez lateral a cada 6 m. A ponte possui vão único de 180 m e largura total de 6,40 m, sendo uma faixa reversível de 4 m e dois passeios laterais de 1 m cada.

Em 2013, para celebrar o centenário da ponte, o Governo paulista deu início a obras de recuperação da estrutura, troca de cabos e piso. A empresa Engeti, de São Paulo, venceu a licitação para elaborar o projeto e também supervisionar as obras de recuperação e substituição dos cabos. O projeto baseou-se em dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPD, que acompanha a obra desde a década de 1930. Mais recentemente, os técnicos do instituto haviam constatado corrosão dos elementos metálicos do tabuleiro, cabos de sustentação danificados e corroídos e torres com eflorescências e fissuras.

“Por se tratar de obra tombada pelo patrimônio histórico, utilizamos cabos com dimensões próximas às dos cabos existentes. Os novos cabos especificados são cabos full locked coil (núcleo fechado) de 081 mm e 063mm fabricados pela Redaelli, da Itália. Foram utilizados 120 t de cabos novos de sustentação”, explica o líder do projeto, engenheiro Rafaelllmerman, da Engeti. Além da troca de cabos, a recuperação envolveu a substituição do tabuleiro existente, formado por uma grelha de três níveis de madeiramento. “Tal sistema foi substituído por vigas longarinas metálicas apoiadas sobre o tabuleiro existente metálico da ponte. Sobre essas novas longarinas foram implantadas peças de madeira resinada, por onde passa atualmente o tráfego do local”, acrescenta Tirnerrnan. Foram utilizados 100 t de vigas longarinas metálicas e 85 m3 de madeira resinada no novo tablado. A obra incluiu também novos blocos de ancoragem para a fixação dos novos cabos de sustentação. Esses blocos maciços (16 m x 8 m x 8 m), situados na parte de trás das torres, suportam uma carga aproximada de 2.500 tf em cada extremidade da ponte.

Ao todo, a recuperação da ponte pênsil de São Vicente consumiu seis meses de projeto e dois anos de obras, as quais incluíram: remoção do tablado de madeira existente; implantação de passarela de pedestres provisória; construção de bloco de ancoragem provisório e torres provisórias, inserção dos cabos provisórios, transferência de carga provisória, remoção dos cabos existentes, adequação dos blocos de ancoragem, substituição do desviador no topo das torres existentes, inserção dos novos cabos de sustentação, transferência de carga definitiva e prova de carga. “Ao longo de todas estas etapas, em paralelo, foi reaIizado o processo de recuperação das estruturas da ponte”, acrescenta o líder do projeto.

Hercílio luz

Considerada a maior do gênero no Brasil, a ponte pênsil Hercílio Luz, em Florianópolis (SC), inaugurada em 1926, possui 821 m de comprimento e liga o continente à ilha de Santa Catarina (parte insular da capital). A obra é formada por um vão central de 340 m entre duas torres com 74 m de altura e pelos viadutos de acesso do continente (222 m) e da ilha (259 m). Seu idealizador foi o engenheiro e vice-governador Hercílio Luz, que encomendou o projeto ao engenheiro David Barnard Steinman, da norte-americana Robinson & Steinman. Pelo projeto, a ponte deveria acolher pista de rolamento, via férrea, passarela de pedestres e a adutora de abastecimento de água de Florianópolis.

Construída em uma época bem anterior ao boom automobilístico e já desgastada pelo tempo, a ponte passou por interdições ao tráfego de veículos no período de 1980/1990, a última delas em 1991, um ano antes de ser tombada como monumento histórico pelo município de Florianópolis, condição reconhecida pelo Ministério da Cultura em 1997.

Em 2005 foi lançado um edital para reabilitar a ponte. A primeira etapa, cumprida entre 2006 e 2009, seria dedicada à recuperação dos viadutos de acesso. Porém, no final dessa fase, os técnicos descobriram problemas mais graves com as rótulas dos pilares, tornando necessário um novo projeto de recuperação. A ideia inicial, que era utilizar cabos provisórios para a troca das barras de olhal, ganhou complexidade. Seria necessário agora construir uma estrutura metálica auxiliar sob a ponte para recuperá-Ia sem riscos.

O projeto completo da ponte Hercílio Luz inclui o reforço das fundações, a construção de uma estrutura provisória e instalação de macacos hidráulicos para transferência de carga (suspensão do vão central), reforço da estrutura central da ponte, montagem das novas barras de olhal e pendurais, substituição de aparelhos de apoio e selas das torres e nova pavimentação, além da desmontagem de toda a estrutura provisória.

Com a ordem de serviço assinada em abril de 2016, o prazo de execução previsto passou a ser o segundo semestre de 2018 (30 meses). Ao término das obras, a recuperação da ponte Hercílio Luz consumirá cerca de 5 mil toneladas de aço e um trabalho minucioso de restauro. “Com mais de 90 anos de idade, as peças são compostas por componentes rebitados, uma técnica bastante antiga, para a qual a Brafer precisou se adequar, mesclando métodos de trabalhos e equipamentos modernos com uma técnica de união centenária”, explica José Augusto, diretor executivo da Brafer, que participa da obra.

Fonte: Centro Brasileiro da Construção em Aço

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